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9 de novembro de 2012

Canela e pé são as maiores vítimas da corrida, mostra estudo

FaCanela, calcanhar e planta do pé são as maiores vítimas do impacto que ocorre na corrida –e não os joelhos, tão lembrados quando se fala em lesão de atletas.


É o que revela estudo pioneiro da Universidade Cidade de São Paulo publicado na “Sports Medicine”, da Nova Zelândia, revista que lidera o ranking internacional de publicações sobre ciência do esporte feito pelo “Journal Citation Reports”.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram 2.924 artigos. “Revisamos todas as pesquisas que descreveram as principais lesões em corredores”, diz Alexandre Dias Lopes, fisioterapeuta, professor da Unicid e coordenador de um grupo de pesquisas sobre o tema.

No final da peneira científica, que descartou textos redundantes ou com definições insuficientes, só oito estudos foram considerados. No total, acompanharam 3.500 corredores e constataram 28 tipos de lesão. As três principais são: síndrome do estresse medial da tíbia (canelite), tendinopatia de Aquiles (tendinopatia do calcâneo) e fascite plantar.




“Não dá para dizer qual é a principal. Essas três são as mais comuns”, diz Lopes, que supervisionou o estudo conduzido pelo mestrando Luiz Carlos Hespanhol Júnior.

Nos consultórios, também são as campeãs, diz Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte


São lesões causadas por sobrecarga, nenhuma é traumática (tipo pisar num buraco). Diferentemente do futebol, que machuca por macrotrauma, a corrida causa lesões por microtrauma de repetição. “Alguma estrutura biológica não aguenta o estresse e sofre inflamação”, diz Lopes.

Márcio Freitas, especialista em pé e tornozelo, acrescenta: “A causa principal dessas patologias é o excesso de treino, com pouco tempo de recuperação dos tecidos [osso, tendão, músculo]“.

Rogério Teixeira da Silva, ortopedista e coordenador do Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia, bate na mesma tecla: “Uma das causas mais comuns de sobrecargas ósseas e de tendão é o músculo não estar forte o suficiente para suportar os treinos; no caso da fascite plantar e nas tendinites de joelho e de Aquiles, o encurtamento muscular também é uma causa importante”.

Quando a advogada Cinthia Andrade, 35, sentiu pontadas no meio da canela, achou que era cansaço.
Os sintomas surgiam nos treinos e eram amenizados quando ela, que corre há seis anos, reduzia a intensidade ou caminhava. Com o tempo, a dor passou a prejudicar seu desempenho.

“Em maio, numa prova de 10 km, tive de caminhar a partir do km 6. Em setembro, participei de outra e tive de caminhar já no km 3. Fico chateada porque estou preparada, mas não consigo desenvolver por causa da dor.”

Sem nunca ter deixado de treinar “”corrida até quatro vezes por semana mais bicicleta ao menos um dia–, resolveu enfim ir ao médico.

O exame indicou canelite nas duas pernas. Agora, ela começa nova etapa: fisioterapia, fortalecimento muscular, aplicação de gelo e redução do volume de treinos. Os resultados devem aparecer em um mês e meio.

A advogada quer acabar com a dor logo e se preparar para a São Silvestre, principal prova de rua do país.”Vou correr de qualquer jeito!”

Menos, Menos


O tratamento, pelo menos num primeiro momento, é sempre a redução do treinamento, tanto em volume (quilômetros rodados por semana) quanto em intensidade (ritmo). Há situações em que o corredor deve mesmo interromper seus treinos. E precisa tomar outras medidas.


“Além de fisioterapia, o paciente deve seguir um programa específico de treinamento, envolvendo alongamento e fortalecimento muscular. Como terapia complementar, a acupuntura, o RPG e a quiropraxia podem ser utilizados”, diz Moisés Cohen, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte.

Os resultados dependem da paciência da pessoa, nem sempre disposta a abrir mão de seu esporte, constata Freitas: “Nós, que tratamos corredores, ficamos muitas vezes de mãos atadas, pois essas lesões requerem um tempo de tratamento, o que não é aceito por eles e, muitas vezes, não temos tecnologia para abreviar esse tempo, que é determinado pela biologia, não pela opinião médica”.

Corredor deve evitar exagero para diminuir os riscos


A julgar pelas estatísticas, pelo menos metade dos corredores vai sofrer lesões relacionadas ao esporte em algum momento da vida.


Duas das maiores pesquisas citadas no trabalho de revisão coordenado pelo fisioterapeuta Alexandre Lopes mostram que 46% dos participantes de maratonas já se machucaram.

Para reduzir o risco de desenvolver patologias em consequência do hábito da corrida, os médicos consultados pela Folha recomendam algumas medidas.

“Aumentar os treinos (volume, frequência, intensidade) de maneira gradual e progressiva, realizar exercícios de fortalecimento muscular duas a três vezes por semana e fazer alongamentos” são algumas das indicações do médico Jomar Souza, da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

Reduzir o peso corporal e usar “calçados adequados” também são fatores que podem diminuir o risco de lesões, segundo o ortopedista Moisés Cohen.

O tênis certo


O também ortopedista Márcio Freitas é mais específico: “A correção biomecânica dos eixos de força dos membros inferiores, com palmilhas e tênis adequados, é importante fator de prevenção; já o alongamento do pé e da panturrilha ajuda a evitar a fascite plantar”.


Freitas também recomenda, para evitar o impacto excessivo, o uso de tênis de amortecimento e de calcanheiras de silicone –além da alternância dos tipos de terreno da corrida.

O corredor deve, ainda, evitar o exagero nos treinos de “tiros” [corridas curtas em ritmo intenso] e não se apoiar demais no antepé, já que esses fatores aumentam a tensão na origem da fáscia plantar.

‘Desisti do tratamento, mas não de competir’, diz consultor de informática

 
Somente oito meses depois de ter sentido pela primeira vez uma pontada forte no calcanhar, o consultor de informática Elton Mendes de Souza, 53, foi ao médico.

“No treino, o tendão calcâneo esquerdo começou a doer. Sabia que era alguma coisa no tendão de Aquiles, mas achei que ia passar”, lembra.

O consultor Elton Mendes de Souza, que machucou os tendões, na academia onde treina, em São Paulo. Foto: Lucas Lima/Folhapress


Isso foi no início do ano passado. Apesar da dor, Souza seguiu com os treinos e até participou, em maio de 2011, da Comrades, prova de quase 90 km na África do Sul, que completou em 11h00min22.

Depois de a poeira baixar, enfim resolveu procurar um tratamento. “Inicialmente, fiz uma terapia com anti-inflamatórios. Mas a dor continuava. No final do ano, fiz umas 40 sessões de fisioterapia à base de choque e ultrassom.”

Mesmo assim, a dor não cedeu, o que fez com que Souza desistisse do tratamento. Em lugar disso, voltou a treinar forte: em janeiro deste ano, iniciou a preparação para mais uma ultramaratona (prova mais longas que a maratona) na África do Sul.

“Mas o meu tendão estava ali, presente. Em março passado, fiz outro tipo de fisioterapia com ultrassom (placas quentes) e laser. Mas a dor ainda persistia”, conta ele, que avalia: “Acho que era por causa do treinamento, pois eu não parei de correr”.

Na prova sul-africana, não sentiu dor, fechando a Comrades 2012 em 10h40. Ao voltar para o Brasil, não deu descanso: começou a treinar para a maratona do Rio, realizada em 8 de julho. Resultado: o outro calcanhar também começou a sofrer. “Mesmo com os dois tendões doendo, continuei os treinos até a maratona”, diz.

Depois da prova, decidiu suspender os treinos. “Parei por 63 dias, fiz umas 15 sessões de fisioterapia e também larguei: fiquei fazendo apenas exercícios para fortalecimento dos tendões.”

Começou a se sentir melhor e resolveu voltar aos treinos há pouco mais de 15 dias. “Ainda não está 100%, mas está bem melhor. Estou fazendo um novo tratamento fisioterápico”, diz Souza, que pratica corrida há três anos, já fez nove maratonas e quatro ultramaratonas.

‘Sinto desconforto, mas não quero deixar de correr’, diz jornalista de 45 anos


Já dura quase um ano a dor na planta do pé de Ricardo Capriotti, jornalista de 45 anos, corredor há 13.


Seu convívio com a fascite plantar começou em novembro do ano passado, com uma dor em forma de pontada na sola do pé, principalmente após treinos e provas.

Ricardo procurou um médico conhecido, que havia lhe dito que a terapia por ondas de choque apresentava bons resultados. “Eu já tinha usado esse tratamento para uma tendinite patelar [no joelho] e uma bursite trocantérica [na região do quadril].”

A primeira sessão de ondas de choque foi feita em dezembro do ano passado.

 
O jornalista Ricardo Capriotti, que tem lesão crônica no pé, se alonga em parque de São Paulo. Foto: Lucas Lima/Folhapress


“Parei por seis semanas com os treinos e as corridas, fazia apenas bicicleta com a ponta dos pés, na academia. Retornei à consulta em janeiro, e a dor persistia. Passei por mais uma sessão de ondas de choque e mais seis semanas sem atividade física, apenas a bike. Voltei ao consultório e a dor continuava.”

O médico resolveu, então, aplicar uma infiltração com corticoide. A dor sumiu imediatamente e a recomendação foi esperar 15 dias e retornar aos treinos gradativamente. “Foi o que fiz.”

Aproximadamente dois meses após a infiltração, Ricardo sentiu uma fisgada muito forte na sola do pé.

“Tentei continuar correndo, mas a dor não permitiu. Abortei o treino e fui procurar um ortopedista especialista em pé.” Após a ressonância magnética, o diagnóstico: rompimento da fáscia plantar.

O rompimento foi exatamente no local onde se costuma fazer a cirurgia em casos crônicos da doença e o prognóstico era positivo.

“Durante 40 dias passei por sessões de fisioterapia e acupuntura e então fui autorizado a retornar aos treinos.”

Desde agosto, Ricardo corre três vezes por semana e faz exercícios para fortalecer o “core” (músculos que sustentam a bacia, a pélvis e a coluna lombar), a panturrilha e os pés, além de musculação e alongamento.

“Ainda sinto desconforto, especialmente quando acordo pela manhã e coloco o pé no chão, mas não quero parar. Cansei de ficar longos períodos inativo e depois sofrer no retorno.”

Economista engordou 12 quilos depois que parou de correr


As lesões mudaram a vida do economista Angel Zaccaro Conesa, que há mais de 20 anos se dedica às corridas: “Fiquei sedentário”, exagera.


A dor no calcanhar direito apareceu há uns dez meses. Conesa achou que fosse uma torção e decidiu descansar. Depois de três meses parado, procurou um médico, que diagnosticou fascite plantar.

O tratamento foi conservador: alongamento, exercícios para a musculatura e suspensão dos treinos.

Os resultados demoraram a aparecer, e o economista de 58 anos só agora começa a voltar à atividade esportiva.

“A fascite surgiu depois de eu ter tido uma tendinite de quadril. Fiquei 14 meses sem correr e engordei mais de 12 quilos”, contabiliza.

Agora, no retorno, pretende ir com calma, “passito a passito”, como diz.

Depoimento: “Ficar parado dói mais do que a própria lesão”


Alexandre Nobeschi:


“Sinto falta da corrida e de tudo o que ela proporciona. E isso dói mais que a lesão. Os corredores estão aí para não me deixarem mentir.

Acho até que o Datafolha deveria fazer uma pesquisa com a seguinte pergunta: corredor, o que você faz quando está com dor?

a) Para de correr
b) Procura um médico e para de correr
c) Faz gelo, toma anti-inflamatórios e para de correr
d) Continua treinando

Não tenho dúvidas de que a letra “dê” prevaleceria. Bom, ao menos foi a resposta que dei quando a dor sugeria que havia algo errado.

Na primeira delas, uma canelite ignorada virou uma fratura por estresse.

No ano passado, numa meia maratona, “quebrei” no km 17. O joelho esquerdo não aguentou e completei a prova como um saci.

Evitei o médico, descansei por uma semana e voltei de mansinho. Não durou muito. Tive de buscar um especialista, e o exame indicou uma tendinite patelar e uma inflamação grave.

No estaleiro desde abril, meus tênis só me acompanham na fisioterapia”.




Por Rodolfo Lucena
Folha de São Paulo



 

5 de novembro de 2012

Correr previne o câncer de mama

Estudo revela que a corrida fortalece o coração e acelera o processo de recuperação

Não é de hoje que estudos demonstram que mulheres fisicamente ativas têm menores chances de ser vítimas do câncer de mama, o mais mortal dos tumores malignos entre a população feminina de todo o planeta. Ainda assim, no Brasil, as taxas de mortalidade por causa da doença continuam nas alturas — 12.500 mortes ao ano, em média, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
 
A novidade é que além de prevenir a doença, os esportes de alta performance, como a corrida, produzem nas mulheres já curadas do câncer uma espécie de barreira protetora, que impede a reincidência da doença, além de atuar a favor da saúde do coração delas. Motivos de sobra para tirar aquele tênis de corrida do armário. Bem, pelo menos é o que sugerem os cientistas do Sports Medicine Center de Florença, da Itália, autores de um estudo apresentado no encontro do The American College of Sports Medicine, nos EUA.

O trabalho mapeou por quatro anos a experiência de 30 atletas remadoras e ex-vítimas do câncer de mama. E a expectativa era de que o esporte apresentasse significativo impacto sobre o desempenho do miocárdio das pacientes. Teoria comprovada, uma vez que a frequência cardíaca de repouso delas passou a ser menor após os anos de treinamento.

A surpresa, porém, ficou por conta da descoberta de que atividades físicas adequadas, como a corrida e a caminhada rápida, permitem reduzir em 50% o risco de retorno do câncer de mama.

Segura, coração!

Para entender melhor a importância dessa pesquisa, basta lembrar que as pacientes que vencem a batalha contra a doença podem, por vezes, ser submetidas a medicações vigorosas e técnicas como quimio ou radioterapia, responsáveis por enfraquecer ainda mais a máquina do coração.

“Daí a importância dos bons resultados desse estudo, como a melhora do condicionamento cardiorrespiratório por meio da prática de atividades físicas intensas, como a corrida”, avalia o oncologista Artur Malzyner, do Hospital Israelita Albert Einstein, além de membro da European Society for Medical Oncology.

Essa, digamos parceria entre a atividade física e o coração funciona da seguinte forma: ao acelerar as passadas na pista, a corredora aumenta a eficiência do seu músculo cardíaco, permitindo que uma mesma quantidade de sangue seja bombeada por minuto, mas com menor número de batimentos do coração. E tem mais, o exercício intenso dá um up no sistema imunológico, também escalado na luta contra as células cancerígenas.

Corrida com musculação
 
Especialmente no controle da obesidade versus diagnóstico de câncer, o esporte de alto rendimento é um grande aliado da mulher.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Jomar Souza: “O tecido gorduroso funciona como uma usina de substâncias tóxicas, inclusive em casos de câncer de mama”. Daí a importância de se manter o corpo magro, sequinho. Por isso, atualmente, a comunidade científica já bate o martelo para a ideia de que obesidade provoca o acúmulo de substâncias parentes da insulina no organismo, capazes de estimular a multiplicação sem controle de células malignas.

E com isso, além de reduzir o risco de doenças cardiovasculares, a corrida ajuda as vítimas do câncer a emagrecer e manter o peso, com o consequente fortalecimento da autoestima — o que afasta o risco de elas caírem em depressão. E de quebra, pode ser útil na recuperação física pós-cirurgia nas mamas, desde que aliada à musculação e ao pilates. A dobradinha corrida-musculação favorece o restabelecimento dos movimentos do corpo, dá força aos ombros e alivia a rigidez característica nas costas. Mas (atenção para o detalhe) só vale iniciar as séries e repetições sob orientação médica.

Retorno Gradual e Progressivo

A decisão de correr exige o aval de um oncologista, de um cirurgião plástico e de um médico do esporte. E não se pode ter pressa, sob o risco de queda do sistema imunológico. Com a liberação em mãos, de quatro a seis meses após o tratamento, o retorno deve ser gradual e progressivo. Assim, os sistemas cardiovascular, respiratório e musculoesquelético têm chance de se (re)adaptar às exigências do exercício.

“O esporte competitivo não pode ser retomado imediatamente à fase final do tratamento, já que as pacientes ainda estão imunocomprometidas, e o treinamento intenso pode acentuar essa queda do sistema imunológico”, alerta Raphael Fraga, cardiologista do Hospital Samaritano. Além disso, o retorno desorganizado pode causar má cicatrização, sobrecarga cardiovascular, arritmias, exaustão precoce, distensões musculares e até fraturas. Já com o organismo preparado para encarar as atividades físicas, mulheres que sofreram com o câncer de mama podem encarar a corrida com a mesma energia com a qual enfrentaram o difícil tratamento.

E as outras, que não tiveram que enfrentar essa difícil batalha, devem ficar de olho na prevenção, avançando nos treinos e deixando para trás o risco de fazer parte das estatísticas de vítimas da doença.
 
Corra desses números

- Em 2012, estima-se que haverá 52.680 novas vítimas do câncer de mama.

- As estatísticas apontam 52 casos para cada 100 mil mulheres.

- O esporte de alto rendimento é um grande aliado da mulher no controle da obesidade — e, portanto, na prevenção do câncer de mama.

(Fontes: Artur Malzyne, consultor científico da Clínica de Oncologia Médica, médico do Hospital Israelita Albert Einstein e membro da European Society forem Medical Oncology; Jomar Souza, médico pós-graduado em medicina do esporte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atual presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE); e Raphael Fraga, cardiologista do Hospital Samaritano.)

(Matéria publicada na revista O2 nº113, setembro de 2012)