22 de dezembro de 2011
20 de dezembro de 2011
Elas estão Maiores
A obesidade infantil já atinge mais de 30% das crianças até os nove anos de idade
Fabiana Bertotti
Ele adora batatas fritas e doces. Refrigerantes? Toma-os todos os dias e nem ouse oferecer frutas ou verduras. “Só come bananae com muito esforço”, explica Inês Macedo, a mãe de Marcos, 8 anos. Ela sabe que o filho está acima do peso e lamenta o que ele sofre na escola com apelidos nada elogiosos, mas acredita que não tem mais o que fazer. “Ele chora e chega a vomitar se o obrigo a comer algo mais saudável.
A origem do problema
Os fatores que levam uma criança ao aumento de peso são os mesmos que agem sobre o adulto: consumo exagerado de calorias e gasto energético deficiente. E eles podem estar atuando antes mesmo de o bebê nascer. Vários estudos apontam para a relação entre o peso da mãe durante a gestação e as chances de obesidade do filho na vida adulta. É que, durante a gravidez, acontecem alterações endócrinas que podem aumentar o risco de diabetes e hipertensão, por exemplo, e de alguma forma essas alterações passam para o feto, via placenta. É o que se chama de programação metabólica, indo muito além de comer menos e gastar mais. O bebê é programado geneticamente para engordar, e a mãe tem grande responsabilidade nesse processo.
Outra possibilidade para o aumento de peso na adolescência é a ausência do leite materno nos primeiros meses de vida. Um estudo para a dissertação de mestrado da nutricionista Débora Masquio comparou dados de 118 adolescentes obesos entre 14 e 19 anos. Apresentada no Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, a pesquisa mostrou que os jovens que receberam apenas leite materno, até os seis meses, têm hoje menor índice de massa corporal (IMC), taxa de gordura e circunferência da cintura. Para a estudiosa, crianças que deixam o peito antes dos seis meses recebem maior oferta de proteína precocemente. Os prematuros também estão nesse círculo de maior tendência à obesidade, e um estudo do Instituto de Pesquisas Biomédicas de Los Angeles está investigando as causas. Por hora, já se sabe que os bebês de baixo peso apresentam menor quantidade de neurônios que controlam a ingestão de comida e acabam comendo muito mais, depois de superada a fase da prematuridade. Até tento controlar dentro de casa, mas ele come fora, com o dinheiro que lhe dou para o lanche. O médico já disse que ele está com colesterol alto, como eu”, resigna-se a dona de casa que convive com a obesidade há pelo menos 15 anos. Esse é um retrato cruel da nova infância brasileira, copiada de países como os Estados Unidos. Já é clichê, convenhamos, mas os sul-americanos em desenvolvimento imitaram a pior parte da cultura consumista dos yankees.
Leite materno emagrece
A pediatra nutróloga, Fabíola Suano de Souza, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, explica que o peso médio de um bebê sadio é entre 3 e 3,5 kg. Bebês com mais de 4 kg ou menos de 2 kg têm maiores chances de sobrepeso. “A alimentação que o bebê recebe no primeiro ano de vida é fundamental, e o que recebe leite materno cresce de modo diferente, é mais leve e comprido em comparação com bebês alimentados com outros leites, que costumam ser mais pesados. O ganho controlado de peso que se dá com o uso do leite materno é associado à redução de 20 a 30% de excesso de peso na vida adulta, pois as células adiposas que se criam na infância se multiplicam e ficam por toda a vida”, explica Fabíola. Novamente, ponto para o leite materno que, segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS – ,deve ser o único alimento do bebê até os seis meses de vida.
A grande questão é que a maioria dos pais e médicos só se preocupam com a obesidade quando a pessoa chega à adolescência ou à fase adulta e não quando ainda está nas fraldas. Grave erro. Uma pesquisa americana publicada na revista Clinical Pediatrics descobriu que a tendência à obesidade é definida antes dos dois anos. O estudo com mais de cem crianças e adolescentes comprovou que elas já estavam acima do peso antes dos dois anos de vida. E antes dos cinco, 90% já davam sinais de obesidade. Trata-se daquela criança fofinha, bochechuda, que nossas mães e avós chamam de sadias.
A força do leite materno
A amamentação exclusiva com o leite materno ajuda o bebê a desenvolver o paladar e facilita a ingestão de diferentes tipos de alimento mais tarde. Ocorre que o sabor do leite muda durante o dia, variando conforme a alimentação da mãe, das atividades físicas que ela faz e até do humor. Com leites prontos, a criança tem sempre o mesmo estímulo e as papilas gustativas não se desenvolvem tanto.
Preocupação em casa
Olhando para a agitação da menina, percebe-se que a atividade física ajuda bastante na sua rotina, mas o excesso de peso está entrando sorrateiramente na vida da pequena Sara, de apenas 4 anos. A mãe, Cíntia de Melo Moura, conta que a menina adora frutas e verduras e come muito pouco as guloseimas como doces e salgadinhos, mas que é impossível cortar tudo da dieta dela. “O maior problema da Sara também é o meu: quantidade. Embora ela se alimente bem, nós todos em casa comemos muito. Estamos tentando reduzir as porções, mas é difícil, pois ela se acostumou a comer mais e reclama”, diz a mãe, mostrando o cartão de acompanhamento do pediatra, onde os 21 kg da pequena se encontram na faixa limite do sobrepeso para a idade e altura.
O pediatra até já mandou tomar cuidado com o peso, mas é difícil recusar quando a loirinha de olhos claros faz charme pedindo mais. “Eu acabo dando e penso que é só daquela vez, mas tenho medo de que ela sofra com problemas de peso, como eu sofri, pois a sociedade é muito cruel, especialmente com as mulheres”, lamenta Cíntia que espera outro bebê.
Entretanto, além da cobrança social, o problema está mesmo na saúde dos pequenos. Crianças já sofrem com doenças que eram exclusivas dos adultos. Na fase pré-escolar, o excesso de peso está ligado ao LDL alto (colesterol ruim) e HDL baixo (colesterol bom), pressão arterial elevada, risco de diabetes, resistência à insulina, abdômen avantajado com maior risco de problemas cardiovasculares. Não é pouco. o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – ABESO –, esse fenômeno é chamado de inversão nutricional, visto que até 20 anos atrás as crianças brasileiras morriam de desnutrição. Segundo a pediatra, hoje a obesidade é considerada uma epidemia e um problema de saúde pública. “O desenvolvimento, a correria do dia a dia e a conquista da mulher no mercado de trabalho fez com que a população trocasse o prato de arroz e feijão pelos alimentos tipo fast food. Além disso, com o aumento da violência e da tecnologia, as crianças passam horas do seu dia entretidas com equipamentos eletrônicos e presas num apartamento”, analisa a médica.
Exercício neles
É preciso atenção redobrada na infância, pois, ao passar a puberdade acima do peso, a criança tem 80% mais chances de ser um adulto obeso, explica a Dra. Zuleika Halpern, especialista em obesidade infantil da ABESO. E isso é sério, já que são claras as mudanças de comportamento de uma geração para outra. “As crianças consomem cada vez mais bebidas açucaradas e cada vez menos leite. O excesso de refeições fora de casa também contribui para maior consumo de gordura e menor consumo de verduras, legumes e frutas. Há ainda uma grande exposição ao marketing de alimentos não saudáveis que interferem negativamente nas escolhas alimentares dessa população”, alerta Zuleika.
O assunto é tão grave que o governo britânico lançou uma nova diretriz para a prática de exercício físico dirigido a menores de cinco anos, incluindo até mesmo os bebês que nem deram os primeiros passos. As autoridades orientam os pais a reduzir o tempo na frente da TV e a estimular pelo menos três horas de atividades diárias que envolvam caminhada até a escola e brincadeiras ao ar livre. Para os que não caminham ainda, a opção é natação com os pais e brincar com jogos enquanto engatinham. Parece paranoia, mas até os cofres públicos sentem um peso quando o assunto é gordura. E parte da solução está, realmente, nas mãos do poder público, por exemplo, na implantação de parques e praças para lazer, orientação nutricional gratuita, regulamentação da propaganda de alimentos e incentivo ao exercício físico na grade escolar.
O exemplo dos pais
O que não se pode fazer é ignorar a individualidade de cada criança e tratar do excesso de peso com castigos e privações severas. Na infância, mais do que dieta para emagrecimento, as medidas devem se concentrar em impedir ganho extra de peso, e toda a família deve se envolver na reeducação, pois geralmente o hábito dos filhos é moldado pelo convívio com os pais. A criança tem de ser ensinada a respeito do sobrepeso e não forçada a uma redução – que deve, sim, acontecer, mas gradualmente.
Para a nutricionista Mariana Del Bosco, também da ABESO, é preciso empenho dos pais para uma oferta atraente de alimentos novos e saudáveis, pois não adianta deixar a criança escolher sozinha entre um prato de batatas fritas e uma porção de alface jogada descuidadamente. “A dieta deve ser cuidadosa e os horários das refeições regulares, bem como o local de alimentação que nunca deve ser na frente da televisão. Mesa colorida, cheia de verduras e legumes preparados com criatividade pode estimular a curiosidade da criança que deve ainda ser mantida longe de doces e guloseimas”, orienta. “Mas se não tomar cuidado, esse processo pode ser mais traumatizante que o excesso de peso. Não é sábio forçar o estigma do gordinho que faz dieta na escola. Enquanto todos comem sanduíche, ele tem que se contentar com uma maçã”, adverte Fabíola.
Dicas de alimentação à parte, todos os profissionais de saúde são unânimes quando o assunto é atividade física. A pediatra Lílian Zaboto lembra que a família deve estar à frente dessas mudanças e “trocar as saídas para a lanchonete por passeios no parque, por exemplo”. Já que o peso não veio de um dia para o outro, a perda também não será tão rápida, mas os hábitos saudáveis devem ser uma lição permanente para que seu filho se torne um adulto sadio.
Obesidade em números
Numa pesquisa nacional de demografia e saúde, feita em 2006, 7% das crianças com menos de cinco anos apresentavam obesidade. Na última Pesquisa de Orçamento Familiar, realizada entre 2008 e 2009, o índice é de 33,5% nas crianças até nove anos. E desse número, 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas já eram obesos. Segundo o IBGE, há dois anos, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava acima do peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nem precisa dizer que esses números são maiores na região urbana, pois na rural ainda existe maior atividade física. Enquanto na cidade a agitação é controlada com televisão, internet e videogame, no interior a mãe ainda grita: “vá brincar lá fora!”
Nessa mesma pesquisa divulgada pelo IBGE é possível avaliar o salto no peso das crianças nos últimos anos. Em 1974, por exemplo, o excesso de peso atingia 10% dos meninos de cinco a nove anos; pulou para 15% em 1989 e passou dos 34% em 2009. O Sul e o Sudeste continuam sendo o celeiro de maior índice de gordura do país, enquanto Norte e Nordeste apresentam números menores. Além disso, entre os adolescentes mais ricos o excesso de peso é cerca de 30% maior.
Para a pediatra Lílian Zaboto, especialista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – ABESO –, esse fenômeno é chamado de inversão nutricional, visto que até 20 anos atrás as crianças brasileiras morriam de desnutrição. Segundo a pediatra, hoje a obesidade é considerada uma epidemia e um problema de saúde pública. “O desenvolvimento, a correria do dia a dia e a conquista da mulher no mercado de trabalho fez com que a população trocasse o prato de arroz e feijão pelos alimentos tipo fast food. Além disso, com o aumento da violência e da tecnologia, as crianças passam horas do seu dia entretidas com equipamentos eletrônicos e presas num apartamento”, analisa a médica.
Fabiana Bertotti é colaboradora especial de Vida e Saúde.
O artigo encontra-se disponível em "Artigos e Livros Sugeridos" ou pelo site : http://fabianabertotti.com/saude/.
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